terça-feira, 27 de setembro de 2011

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta...


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
...

Alberto Caeiro

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Murmúrios

Espreitam por detrás da cortina em bicos de pés. Pensando que estão escondidos espiam a vida alheia. Procuram espreitar o que se passa, desejando ver o que não se passa. E então falam, falam uma e outra vez. Dizem o que lhes convém. Fomentam a mentira e o boato pensando que estão protegidos pela cortina. Mas esquecem que a cortina é curta e deixa a descoberto as pegadas deixadas. Esquecem que o nariz fica exposto, sujeito a identificação, na pequena abertura da cortina. Esses, cuja vida não tem existência, quando alguém se dedica a uma causa é porque tem alguma segunda intenção, é porque quer tirar proveito de alguma coisa.  Esses, cuja coragem é cobardia, não são capazes de se dedicar a nada sem nada receber em troca. Não têm a grandeza de fazer algo para o bem-estar dos outros. São incapazes de olhar para além de si próprios. Para fazerem valer as suas pretensões compram o direito do mal dizer de tudo e de todos porque lhes dá prazer. Sem sombra de dúvida que lhes dá um miserável, mas imenso prazer.



É triste ver como as pessoas podem ser tão pobres de espirito, tão ignorantes de sentimentos, tão carentes de civismo, tão isentos de solidariedade, tão vazios de vida.  É desolante ver como alguns Homens conseguem ser tão desumanos...

domingo, 25 de setembro de 2011

Consciência


O dia em que vocês envenenarem o último animal... quando não existirem nem flores, nem pássaros, se darão conta de que dinheiro não se come.”

Hamawt’a

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Era uma vez...

Um predador que deambulava pela selva de vidas à procura de uma presa que lhe despertasse os sentidos. Ele percorria as encostas de seres ingénuos, que desconheciam a sua existência, camuflado de bom feitor inofensivo. Um certo dia, os seus olhos esbarraram numa presa que lhe pareceu perfeita. Uma criatura isenta de maldade, desconhecedora dos perigos que se escondem nos lugares recônditos do mundo. Com toda a astúcia aproximou-se dela, mantendo sempre a máscara que o escondia como predador. E assim que viu oportunidade lançou-se a ela com destes e unhas. Procurava satisfazer os seus desejos mais perversos. 

Sobre aquela criatura caíram todos os medos do mundo. Não sabia ao certo o que lhe estava a acontecer nem o terror que a esperava. Do nada alguém que ela sempre conhecera, com quem sempre convivera estava a agarra-la de forma estranha, o seu discurso não fazia sentido e a forma como ele agia não era normal. Aquele ataque nunca chegou a ser consumado. Para grande raiva do predador ela foi salva. 

Ela conseguiu fugir ao ataque furtivo, mas não se livrou de outras tentativas de ataques. Durante anos foi obrigada a viver sob disfarçadas, mas ferozes ameaças de novos ataques. Durante esse tempo viveu assustada e sem saber de como fugir daquele predador. Até que, o ponto que a obrigava a conviver com o predador deixou de existir. Aí ela conseguiu fugir e afastar-se dele. Aos poucos foi aprendendo novamente a viver sem medo, foi aprendendo a caminhar sem olhar quem vinha atrás, foi aprendendo a não recear a noite. Acreditou que era capaz de esquecer o que acontecera nos tempos passados e colocou-se à prova em aventuras que a obrigavam a superar os fantasmas e a seguir, de vez, em frente sem receios. No entanto, os fantasmas quando se viram esquecidos fizeram por serem relembrados e voltaram para assombrar a pobre criatura que acreditou ter crescido e se tornado mais forte, capaz de se defender (mas na realidade ela viu-se de novo perdida, insegura, com medo e desprotegida).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Recordações

As recordações são pedacinhos de nós. São fragmentos do que vivemos, do que fomos. As recordações são as peças que constroem o puzzle da nossa vida, peças que já não temos connosco. São sorrisos, são comidas, são lugares, são pessoas, são momentos, são experiências, são cores, são dias, são cheiros, são sabores… Elas na maioria das vezes estão bem guardadas na nossa memória, bem arrumadas na nossa cabeça. Tão arrumadas que parecem esquecias ou perdidas, mas na verdade elas estão lá à espera de serem despertadas, prontas para voltarem à acção no palco da imaginação e revividas no coração.



Ontem ao passar por uma figueira o seu aroma, a figos maduros, despertou-me os sentidos. Aquele cheiro fez-me lembrar de quando era criança (9 ou 10 anos de idade) e de quando já era mais crescida (20 ou 21 anos de idade). De repente fui transportada para casa da minha vizinha onde eu passava algum tempo das minhas férias de verão com o meu irmão. Lá existia uma figueira (hoje já não existe, por pena a minha) onde nós nos sentámos à sombra e jogamos jogos de tabuleiro e algumas vezes lanchamos (bons tempos). Depois fui transportada para os últimos tempos que estive com a minha avó que adorava figos maduros. Aqui não consigo descrever o que vivi. Apenas consigo sentir. Sentir as saudades de ir a casa dela, de estar com ela, de a ouvir, de tudo… 

É pena não estares aqui para nos ver crescer. É pena não estares aqui para te fazer companhia. Soube-me bem recordar como gostavas de figos =)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Emocionante


Hoje fui levar a minha afilhada à inauguração da escolinha nova. E de repente estava eu toda emocionada e cheia de contente. A minha menina está tão linda e tão grande. Aí como crescem tão rápido. Ver todas aquelas crianças cheias de vida, com tanta alegria, com tanta agitação encheu-me o coração. Aquele momento para mim foi mágico. Eu tento estar presente nestes momentos mais importantes e tem sido lindo acompanhar as diferentes fases por que passa uma criança. É emocionante vê-los crescer.  



domingo, 11 de setembro de 2011

11 de Setembro

Recordo hoje esse dia que foi o 11 de Setembro. Tinha eu 14 anos e como tal vivia as coisas com mais ligeireza. Os problemas, ou pelo menos esses problemas com o mundo, não me despertavam o “interesse” que hoje despertam. Nesse dia estava eu com uma amiga em sua casa onde estava a ser instalado os canais por satélite e quando finalmente estão instalados fica-mos as olhar uma para a outra. Tinha-mos percorrido quase tudo que era canal e estava a dar o mesmo em todos esses canais. Diz a minha amiga: isto não apanha 30 canais, mas sim um. Está a dar a dar a mesma coisa em todos eles… Bem não percebo nada disto! E sem ligar ao que estava a acontecer mete-mos um cd a tocar e ficamos ao sol a ouvir música aos berros.
Só mais tarde quando cheguei a casa é que percebi o que se passava e com o decorrer dos dias é que comecei a ter noção da gravidade do que tinha acontecido


Mas mais importante que perguntar onde eu estava nesse dia é perguntar onde poderiam estar as pessoas que sofreram o atentado. Se tivessse acontecido alguma coisa na sua rotina que os impedisse de estar no local da tragédia o sua história teria um outro final.



Na realidade existem bons e maus, existem criminosos e inocentes, existem terroristas e vítimas em ambos os lados.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pontes

É engraçado como determinados lugares fazem sentir bem, renovam energias e trazem tranquilidade interior. Sempre que atravesso aquela ponte parece que sou transportada para uma outra dimensão. É como se aquele rio por debaixo dos meus pés me falasse e me fizesse acreditar, com mais força, que tudo é possível. O certo é que quando vou passear por lá a minha confiança fica renovada.  


Da última vez que por lá passei a brisa estava fresca e embora o sol já brilhasse alto no céu, ainda se sentia o cheiro do amanhecer e dei por mim a trautear baixinho " Somewhere over the rainbow... Blue birds fly. Birds fly over the rainbow. Why then. Oh why can't I?..."
Distraída, envolta nos seus pensamentos sorri e cantarolei e dei por mim de sorriso rasgado no rosto, mesmo com olhar marcado pela inquietação de alguns problemas. Problemas, que em breve, tenho de tomar uma atitude firme para os resolver.


 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Politica...

Anúncio – terça-feira entrevista a Vitor Gaspar conduzida por José Ferreira Gomes.
Eu – hmm vou querer ver isto. Assim fico um pouco mais por dentro do que se passa no país e quem sabe esclareço uma ou outra dúvida.
Eu (final da entrevista) – bem vou ter de me dedicar ler o orçamento de estado pois está lá tudo esclarecido e há algum tempo.




Deu sempre para saber de algumas medidas das quais não tinha consciência ou conhecimento que iriam ser tomadas, mas o ministro das finanças “desiludiu-me” nas suas respostas pouco objectivas e pouco esclarecedoras.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tudo Vai, Tudo Volta...


"Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel,
Eternamente constróí-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo volta a se encontrar; do ser.
Em cada instante começa o ser; em torno de todo o "aqui " rola a bola "acolá ".
O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.
"

(NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra)



Este texto dá-me volta à cabeça que fico com as ideias às voltas e a fervilharem. Dá para escrever tanto a partir deste texto, tantas teorias, num sem quanto de elações. Eu gosto disso. Gosto de sentir o desafio de me questionar a mim própria.  Que amor está no meu caminho? Que destino traço? Quem é o verdadeiro autor da minha vida? Escrevo o meu caminho com minha carne ou o meu sangue? Ou outras pessoas escrevem por mim, tornando-me eu um mero espectador? Sigo o meu caminho ou ando por estradas já vagueadas?

O Lugar


Já é noite e o frio
Está em tudo que se vê
Lá fora ninguém sabe
Que por dentro há vazio
Porque em todos há um espaço
Que por medo não cedeu
Onde a ilusão se esquece
Do que o medo não previu

Já é noite e o chão
É mais terra p'ra nascer
A água vai escorrendo
Entre as mãos a percorrer
Todo o espaço entre a sombra
Entre o espaço que restou
Para refazer a vida
No que o medo não matou

Já é dia e a sombra
Está em tudo o que se vê
Lá fora ninguém sabe
O que a luz pode fazer
Porque a noite foi tão fria
Que não soube acordar
A noite foi tão dura
E difícil de sarar

Mas onde tudo morre tudo volta a nascer

Já é dia e a luz
Está em tudo o que se vê
Cá dentro não se ouve
O que lá fora faz chover
 
Tiago Bettencourt




 Mas onde tudo morre tudo volta a nascer

sábado, 3 de setembro de 2011

Círculo fechado

Este mundo há muito que deixou de ser habitado por seres humanos e passou a ser povoado por números. As pessoas são números, meros números. São números de uma lista de espera de um hospital. São números de uma inscrição de emprego. São números de um empréstimo bancário. São número de mortos. Números de sobreviventes. São números de refugiados. São números de um catálogo de ricos, são números de uma lista pobres. São números de entrada ou não na faculdade. São números da segurança social, do Cartão Cidadão, do cartão de utente. As pessoas são números, são quantidades... Quantos são os que tenho de passar por cima para conseguir a promoção? Quantos tenho de despedir para ter mais lucro? Quantos tenho de eliminar para ficar? Quantos tenho de coagir para me fazer valer? Quantos tenho de diminuir para me fazer grande? Quantos tenho de maltratar para me sentir bem? Quantos tenho de prejudicar para obter o meu reconhecimento? Quantos...?



São muitos os que vivem num círculo fechado onde simulam sorrisos à sua volta, onde proclamam palavras recheadas de nada, onde encenam um viver que não tem vida, onde ocupam um lugar sem presença. São muitos os que constroem uma existência coabitada com a sua própria pessoa. São muitos os que querem ter o mundo na mão, mas pelos motivos errados. São muitos os que querem conquistar o mundo, mas de costas voltadas para ele.