quarta-feira, 29 de junho de 2011

After

Depois da palavra vem o silêncio,
Silêncio que escorre pelas muralhas
Muralhas perdidas da noite
Noite que se revela desabitada
Desabitada de vida
Vida sem sentimento
Sentimento extraviado
Extraviado num amanhã
Amanhã sem um hoje
Hoje
errante
num
depois




terça-feira, 21 de junho de 2011

Que o vento me leve a viajar...

Submersos em silêncios gritam estrofes de um verso de uma história fortuita. Por caminhos de um texto desalinhado, os meus pés, trepam paredes altas de muralhas derrubadas. Rasgam os trilhos da chuva caminhando ao incerto sem saber por onde vão nem para onde me levam.  Por vezes velozes, por vezes ligeiros seguem o inconstante nascer da aurora num tempo que se esgota no olhar. Gostava de me perder no vento, de com ele percorrer o mundo, de ser um pouco mais verdade e desafiar o mundo num duelo, igual herói lendário,rei do seu castelo.


Vou construindo a pessoa que sou em cada passo que dou, em cada estrada que os meus pés percorrem e em cada encruzilhada que me sento e espero que o vento me leve a viajar.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia...

Não podia deixar passar em branco o 123º aniversário de Fernando Pessoa. Para isso, deixo aqui um excerto de um dos seus poemas do livro O Desassossego.

 

"A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada ser feliz — tudo isto cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para ti, em amá-los.
Veste teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Março nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia morra entre mirtos, teu tédio cesse então [...] e o som da água acompanhe tudo isto como um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor."


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mendigo...

"São as pessoas que habitualmente me cercam, são as almas que, desconhecendo-me, todos os dias me conhecem com o convívio e a fala, que me põem na garganta do espírito o nó salivar do desgosto físico. É a sordidez monótona da sua vida, paralela à exterioridade da minha, é a sua consciência íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado, me dá a cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo."


Fernando Pessoa in Desassossego