domingo, 28 de fevereiro de 2010

Olhares...



Todos nós temos
Olhares perdidos,
Olhares dispersos…

Da janela a encosta retorcia-se em altos e baixos. O perfil das colinas estendia no horizonte do céu pálido o luar branco. O seu olhar extasiado deixava-se ali ficar, perdido naquela metamorfose do dia para a noite. Disperso na beleza que se afigurava diante si, seu olhar procurava inúmeros olhares:

Olhares anónimos,
Olhares familiares,
Olhares imaginários,
Olhares apaixonados,
Olhares ausentes...

A escuridão mergulha e finalmente o seu olhar procura o seu próprio olhar… sem o menor preparo compreendera espontaneamente que existia uma incompatibilidade.

Ao fundo da sala, como se estivesse bem longe, surge o som de uma música. Essa melodia comove-a, mas ela não se deixa levar pela emoção. Sabe que tudo não passa de uma bela e doce mentira. Esse comportamento divertia-a e ao mesmo tempo assustava-a.

Estava cansada não apenas fisicamente como mentalmente. A sua fraqueza embriagava o seu olhar. Num acto voluntário resistiu à embriaguez e do chão pega na sua fraqueza e lança-a em plena rua à vista de todos. Ergue-se, por fim, e admira o que os olhos lhe podem dar a ver de cima…

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Música



.
Arte,
Beleza dionisíaca,
Concebida com êxtase,

Libertadora,
Liberta da solidão,
Da clausura,
Da poeira das bibliotecas,

Abre-me no corpo as portas,
Por onde a alma pode sair,
Para confraternizar-se.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mistério.

Gosto de ti ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecado.


(...)



Talvez um dia entenda o teu mistério...
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
.
Florbela Espanca in Poesia Completa
.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Por vezes...





Por vezes temos


de esquecer todas as lembranças


e construir novas memórias


...








.


Obrigada pelo apoio amiga

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

DREAMS



Sonhos
Doces horizontes
Metas almejadas
Desejos desejados

Sonhos
Vão
Vêm
Voltam
Morrem

Mas o homem fica
Fatalmente vivo
Sofrendo cada sonho
Como uma hipoteca
Que tarde ou cedo
Terá de liquidar

Não importa que sejam
De justiça, de beleza
De amor, de bem-estar
Como dos seus contrários
Que o fado cumpre-se com
Igual força, fatalidade
Implacável e desumano…
.

A concha...


A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O que sentimos...



O que sentimos, não o que é sentido,
É o que temos.
Claro, o inverno triste
Como à sorte o acolhamos.
Haja inverno na terra, não na mente.
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
Nossa caveira breve.




Ricardo Reis - Odes De Ricardo Reis

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Loneliness



Como a necessidade de uma droga, este vício corre-me nas veias. Corre-me nas veias em direcção ao coração, onde fica aprisionado, e me faz ser diferente do que sempre fui, do que quero ser. Surgiu sem eu me aperceber e com o tempo tornei-me dependente.

Transformei-me numa espécie de ser mutante que já não procura companhia para nada, porque as coisas fazem mais sentido quando sozinha.

Tudo começa nas pequenas grandes situações imprevisíveis que a vida oferece no caminho da falsa felicidade de estabilidade de plástico. Surge o receio de dar o passo maior que a pernas, as decisões são baseadas não na própria vontade, não no próprio instinto, mas nas consequências, na estrada segura, sem percalços, porque a conta a pagar de cada erro é alta.

O medo de falhar, principalmente de desiludir alguém, vai sempre estar comigo, mas hoje procuro viver como se não houvesse amanhã e aprendendo com os passado. O que aconteceu aconteceu e não há nada que possa fazer para mudar...apenas posso continuar a viver...Porque por vezes o medo de falhar amanhã rouba-nos a vida de hoje e o que está no ontem não podes voltar a viver.

Vou caminhando na minha companhia.
Hoje, a solidão é uma necessidade minha, para me encontrar, para ser eu.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mundo ficticio...




"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar."

.




Fernando Pessoa


Carta a Casais Monteiro (13-1-1935)

.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É tua dou-ta

Quando
me exigem o universo
e não se é deus
olho o céu
com o dedo
na estrela da meia-noite
entre os dois moinhos
no luar do monte
é tua dou-ta
porque amor é seu nome
.


Daniel Sant'Iago

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cinema



AVATAR, um filme magnífico!
Já algum tempo que um filme não me despertava tanto interesse e satisfação. Adorei tudo a mensagem, os efeitos especiais, a originalidade, qualidade enfim tudo de tudo.
É inspirador, a sua essência é genial, pois de certa forma transmite as agressões que temos feito ao nosso planeta e como podemos destruir o que de mais puro existe… é tão bom o amor sem pedir nada em troca…e que tanta falta nos faz essa partilha de amor pelo o que nos dá a vida…
Aconselho a vê-lo! Eu seguramente vou revê-lo :)
Sr. Cameron e sua equipa estão de parabéns!
.