quarta-feira, 31 de outubro de 2012

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL



Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensações uma religião e uma política, para esse o primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, é o sentir as coisas mínimas extraordinária e desmedidamente. Este é o primeiro passo, e o passo simplesmente primeiro não é mais do que isto. Saber pôr no saborear duma chávena de chá a volúpia extrema que o homem normal só pode encontrar nas grandes alegrias que vêm da ambição subitamente satisfeita toda ou das saudades de repente desaparecidas, ou então nos actos finais e carnais do amor; poder encontrar na visão dum poente ou na contemplação dum detalhe decorativo aquela exasperação de senti-los que geralmente só pode dar, não o que se vê ou o que se ouve, mas o que se cheira ou se gosta — essa proximidade do objecto da sensação que só as sensações carnais — o tacto, o gosto, o olfacto — esculpem de encontro à consciência; poder tornar a visão interior, o ouvido do sonho — todos os sentidos supostos e do suposto — recebedores e tangíveis como sentidos virados para o externo: escolho estas, e as análogas suponham-se, dentre as sensações que o cultor de sentir-se logra, educado já, espasmar, para que dêem uma noção concreta e próxima do que busco dizer.

Fernando Pessoa 






A vida está sempre preparada para o antes e o depois de tudo… porque há sempre uma nova forma de viver.
                                 





Esquecer o antes 
não é inevitavelmente necessário 
desde 
que não te impeça de viver
 o depois...

sábado, 20 de outubro de 2012

Não mexas no tempo


Passam dias
Passam noites
Só tu sabes o que é desesperar
As tuas horas são dois milénios
E aquela canção só vem lembrar

Tens o vício na memória
E o teu coração não quer voar
Sempre e só queres a vitória
Mas tens medo até de te encontrar



Não mexas no tempo
Pára de esperar por quem não vem
Pede ao mar e pede ao vento
Essa paz que o amor tem

Não mexas no tempo
Pensa que esperar não é perder algo
O reencontro ao fim de um tempo
É mais doce que viver

O tempo é algo intocável
Isto não é para esquecer
É no mais íntimo do tempo
Que não se deve mexer







André Sardet e Viviane

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Deuses



Onde param os deuses
Ou anjos de trejeitos macios
Que zelam por todos nós
E levam consigo
Coisas como
Amores finalizados,
Sonhos trocados,
Fins de vida sossegados
Cadáveres…