Já não fala
ou o pouco que fala já não desperta um interesse natural. Por vezes já só ocupa
uma posição débil, encolhendo-se no leito à esperar de um bem-estar que nem
sempre chega. O seu cérebro esquece-se de quem era, já não sabe bem quem é ou a
quem pertence aquele corpo e aos poucos a vida anoitece. No arrastar
dos dias, o interesse pelo que o rodeia deixa de ter importância, o sorriso
extingue-se do rosto e o corpo mirra ali, como um objecto inerte a quem
deixaram de depositar humanidade, a quem tiram a vida ainda com vida.
Muitos dos
idosos que vesgueiam por este mundo feito de países que se dividem em cidades
onde pertencem as nossas casas ainda são gente, ainda são vida, mesmo que essa vida
se transforme num bebé perto de desnascer.
Estende-lhe
a mão, ajuda-o a dar os últimos passos do seu já findo caminho, pois o velho
que hoje vês é a imagem da tua pessoa amanhã. O idoso a quem viras as costas,
mal tratas ou esqueces num canto morreu hoje, mas amanhã esse velho renasce em
ti, trazendo com ele as culpas do que lhe fizeste ontem.
Se queres
ser bem tratado e amado quando já não se podem acrescentar dias à vida, ama e
cuida dos que perto de ti desnascem no ventre de uma sociedade que não sabe ser
mãe. Não descartes os idosos da tua vida, não esqueças que a tua vida acaba velha.
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