terça-feira, 16 de agosto de 2011

LOve

"As pessoas ficam juntas pelas razões erradas; para esquecer outras pessoas; para mudar de vida; porque acham que chegou a altura de fazer o que todas esperam que se faça; casar e ter filhos. Raramente se unem de uma forma pura e verdadeira, por amor.

Nunca se falou tanto e tão abertamente de amor e casamento e no entanto nunca um e outro foram tão banalizados. A sociedade de consumo transformou um e outro em produtos acessíveis e os tempos modernos vendem-nos como se vivessem juntos na mesma embalagem. A ideia do amor como sinónimo de casamento, e este como um passaporte para a felicidade, tornou-se uma indústria para a música, a literatura e o cinema.

Durante milénios nenhuma sociedade caiu nessa ratoeira; o casamento servia para fins comerciais ou se sobrevivência. Viola não casa com William em A Paixão de Shakespeare porque ele é poeta e pobre. Em vez disso, casa com um duque para que o seu pai compre a sua posição na sociedade com dinheiro do seu dote. Os dois amantes lendários e perfeitos um para o outro teriam que ser os dois muito ricos, de outra forma nunca seriam livres. Ou talvez apenas muito pobres, porque o dinheiro é como o poder e a fama, estraga mais do que acrescenta e acaba por se tornar numa forma subtil, mas devastadora, de prisão para o espírito.

Até ao século XX o casamento era uma coisa e o amor era outra. As senhoras casadas tinham direito a ser cortejadas e o amor cortês tinha todos os encantos do amor proibido sem nenhuma das suas máculas; à varanda, nenhuma rapariga poderia ser possuída ou violada. A não ser que o rapaz subisse pela trepadeira, o que aconteceu com certeza muito mais vezes do que a história conta. A regra de ouro era manter o segredo, de outra forma o amor cortês perdia todo o seu encanto assim era revelado, desmascarado, tornado público. Já pensaste que hoje é ao contrário? Toda a gente torna público os seus amores, como se a verdade só subsistisse com o conhecimento de terceiros.

As convenções sociais, as barreiras erguidas pela religião católica, o medo e a culpa sempre presentes na existência dos homens tiveram efeitos devastadores e perversos na condição amorosa; o sexo foi, de uma forma ou de outra, visto como algo proibido, e ainda que atenuado como expressão de um amor, era sempre o amor carnal, a prática de um pecado cujo castigo seria cumprido com a expiação na terra, ou com um bilhete de ida sem volta ao inferno depois da morte. E apesar disso, ou quem sabe, exactamente por isso, os homens e sobretudo as mulheres nunca desistiram do amor."

Vejo um pouco as palavras de Margarida Rebelo Pinto como minhas, em determinadas situações. Em mim, tenho as histórias de verdadeiros romances contadas pela minha avó. As conquistas e as desventuras de um amor “à moda antiga”, como dizia ela. Esses amores feitos de beiradas de janelas, de bailaricos de verão pelas desfolhadas, do piscar de olho e um verso galanteador, das cartas de amor. Esses amores feitos de romance para surpreender coração desejado, ou devo dizer antes, amado. Tenho em mim todas essas encantadoras histórias que me fizeram sonhar enquanto menina e me fazem sonhar enquanto mulher. Dizem que hoje já não existem amores como antigamente. Para mim, talvez existam, só que são vividos segundo uma outra sociedade, segundo outras leis, segundo outras prioridades, segundo um outro significado ou sentido de amor, vivido por outras pessoas.

Esta reportagem mostra um bocadinho do amor de antigamente, de hoje, de sempre.






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